E se as artes fossem vivas?
É com esse pressuposto que o enredo de Art Ops é construído. Lançado no final de 2015 e criado por Shaun Simon e Michael Allred, Art Ops conta a história de uma organização que possuí a missão de proteger, se utilizando de estranhíssimas tecnologias, as obras de arte que nessa HQ são vivas e são personagens.
A história se inicia com a extração de Mona Lisa de seu quadro, no Louvre. Sim. A Mona Lisa, ou melhor, Lisa é retirada de sua tela em uma empreitada que tem como objetivo protegê-la de uma ameaça que atinge o mundo das artes. A partir disso, a narrativa avança dois anos e começa a apresentar um dos personagens centrais: Reggie, um jovem rebelde traumatizado pela negligencia de sua mãe durante sua infância. Ele, ao sair de casa para comprar drogas, é atacado por um grafite que ganha forma e arranca seu braço quase o matando. É nesse momento que ele é salvo por sua mãe, Regina, e seu braço é recuperado com uma mescla de tintas extravagantes e coloridas que fazem crescer uma espécie de braço mágico no lugar. Após uma confraternização da organização, todos os agentes, incluindo, Regina, desaparecem e Reggie, conforme definido por sua mãe, deve ser a pessoa responsável por assumir os rumos da Organização. É a partir daí que a história se aprofunda, mas melhor parar para evitar spoilers que possam desestimular a leitura de possíveis interessados.
Além disso, temos a narrativa da história contada em duas diferentes épocas: A mais recente, com o personagem Reggie tendo que assumir a liderança da organização e enfrentando os dilemas dessa situação e a segunda narrativa centra no passado da organização sob a liderança de sua mãe, Regina. A narrativa em comum das duas épocas torna a história mais estruturada, aprofundando as motivações dos personagens, complexificando a ideia da Organização e explorando a complexidade e esquisitice do tema. Em resumo, apesar da existência de diálogos extremamente longos e, em partes, descartáveis, a narrativa é complexa, metafórica e flui bem, fugindo de uma superficialidade típica de muitas HQs.
Os dois personagens centrais são extremamente bem construídos: Regina, centrada, madura, abriu mão de seu filho para se dedicar à organização e seu filho, Reggie, rebelde, pouco comprometido e traumatizado pelo abandono materno que sofreu na infância e pouco interessado na defesa da arte. Os dois personagens, mãe e filho, são extremos opostos, mas que devem lidar com o mesmo destino: Liderar a organização e proteger o mundo das artes. Os diálogos internos dos personagens são complexos e refletem toda a inquietude desses indivíduos com suas frustrações e com o mundo que os cerca. Para equilibrar as rebeldias de Reggie ainda temos “The body”, um personagem extraído de uma revista de quadrinhos que atua como agente da Art Operatives e, principalmente, como mentor do novo líder da Organização.
A arte da HQ é um espetáculo a parte. O esquisitismo beira a genialidade. O contraste entre o colorido dos personagens e a retratação mais escura de Nova York torna cada desenho uma obra de arte. O foco na mescla de uma pop art com elementos punks é mais um dos inúmeros acertos na elaboração artística e colorização. Todos esses fatores juntos contribuem para passar a sensação de um ambiente criativo e psicodélico.
Tendo isso em mente a originalidade de Art Ops não é sua única qualidade. Um roteiro divertido, personagens carismáticos, uma arte criativa e de extrema sensibilidade estética junto a uma gama de possibilidades e mistérios em aberto marcam essas seis primeiras edições de Art Ops. Com total certeza, vale a pena se aventurar nessa grande experiência inusitada. Fica aqui a sugestão de uma leitura envolvente, fluída e tão esquisita quanto genial.
Escrito por:
Edworld Adventure - Sou um dos integrantes desse blog de nome excêntrico e até um pouco sem graça. Diferente dos outros colunistas, vulgo meus amigos, sou o único que possuo vida para além dos limites de meu sofá. Apaixonado por Star Wars, teatro e cinema, sou estudante de História. Assim como o restante, os atrativos de uma vida adulta me parecem muito chatos. Resumo minha existência em uma frase: "I could have been a contender instead of a bum, which is what I am - Let´s face it"
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