Recentemente, a DC anunciou o primeiro teaser da animação Batman: The Killing Joke (1988). Muitas pessoas ficaram animadas com o que viram e foram atrás de mais informações sobre a HQ escrita por Alan Moore em parceria com Brian Bolland. Nessa história, Alan Moore revisita a origem de Coringa, aprofundando o personagem e suas motivações, trazendo, inclusive, aspectos marcantes de sua vida familiar (Miséria, gravidez de sua esposa) que fazem um frustrado comediante entrar no mundo do crime. Tendo como um dos pontos centrais de seus argumentos a ideia de que basta um dia ruim para levar uma pessoa sã à loucura, a história se desenrola com total primor. Sem dúvidas, essa história marcou Alan Moore e o colocou ainda mais sob os holofotes, e no atual hype de Batman, não tenho dúvidas que essa história será muito lida e relida.
Para além de Batman: The Killing Joke, Alan Moore é um dos maiores escritores de quadrinhos de todos os tempos. Sua obra é extremamente extensa, tendo idealizado HQs extremamente consagradas e famosas como, por exemplo, Watchmen (1986-1987) e V de Vingança (1982-1985), que retratam um cenário distópico, marca característica dessa fase de sua carreira. Tendo isso em mente, será apresentada uma série de indicações de obras de Alan Moore para que o leitor possa se aprofundar nos universos criados pelo escritor britânico. Nessa postagem, iremos indicar três obras menos conhecidas do público brasileiro, mas que possuem profundidades e qualidades inquestionáveis. São elas:
1 – Promethea (1999 - 2005)
Trabalhando temas como magia, misticismo e filosofia, Promethea conta a história de Sophie Bangs, uma estudante de uma Nova York medonha, que descobre ser a hospedeira de Promothea, divindade presente em diversas religiões e tempos (Desde o Egito antigo até o final do século XX) cujo objetivo é trazer o Apocalipse.
Sua profundidade filosófica bem como o desenvolvimento de uma mitologia e simbologia prórpia agrada até o mais exigente dos leitores. Não é incomum observarmos críticas ao materialismo e superficialidade de nossa sociedade. No entanto, Promethea tem uma narrativa complexa e cheia de conceitos implícitos e de ambiguidades, o que exige um olhar apurado e bastante atenção. Não existe por parte de Alan Moore a tentativa de simplificar a história. A complexidade e os símbolos são bem visto até como forma de aprofundar a história e desenvolver melhor o enredo.
2 – Do Inferno (1991 – 1996)
Essa imensa graphic Novel (572 páginas) escrita por Alan Moore em parceria com Eddie Campbell apresenta a história de Jack, The Ripper tendo como ponto de vista as motivações e tramas do próprio assassino, inserindo os crimes em uma possível grande conspiração envolvendo figuras históricas importantes de Londres do final do século XIX. Além disso, por vezes, a perspectiva de Abberline, detetive responsável pelo caso, é colocada no plano central.
O grande diferencial dessa obra é a pesquisa histórica realizada pelo escritor – presente no apêndice da edição. A partir dessa pesquisa, Alan Moore apresentou o cotidiano da era vitoriana com extrema precisão e verossimilhança. O mesmo vale para as ilustrações de Eddie Campbell apresentando com realismo e precisão histórica as ruas e monumentos de Londres. A miséria e a magnitude de uma cidade em crescimento desenfreado fazem parte da história. Londres, mais precisamente Whitechapel, é um personagem que se desenvolve conforme as teias das diferentes histórias se entrelaçam.
A referida obra não se destaca pelos fatos fundamentais da história ou pelas reviravoltas que ditam o ritmo da obra, mas sim pela capacidade de desenvolvimento dos personagens e da história que passam longe do superficialismo padrão das HQs de hoje em dia. Portanto, ler Do Inferno é um exercício que exige atenção para não se perder nas complexas histórias e relações sociais que Moore nos apresenta.
3 – A balada de Halo Jones (1984)
Escrito em pequenas edições de 4-5 páginas (e por isso tendo um ritmo um pouco estranho), a balada de Halo Jones é uma obra não concluída (apenas três dos noves livros foram publicados. A história se passa no século 50 na colônia de Aro, uma grande cidade sobre o oceano que abriga excluídos sociais e classes tidas como perigosas. Nesse ambiente distópico, essas “classes perigosas” sofrem a todo momento com uma vigilância e violência constante. A história, melhor dizendo, a balada começa com a fuga de Halo Jones para bem longe de Aro.
O grande destaque da obra é a capacidade de desenvolvimento desse cenário futurista por Alan Moore. Mesmo tendo pouco espaço, o universo e o ambiente no qual se passa as aventuras de Halo Jones apresentam profundidade e complexidade. Não à toa, essa obra é recheada de referências e críticas à sociedade em que Alan Moore vivia, desde a lógica da vigilância excessiva até críticas ao machismo. Vale ressaltar que Halo Jones é uma personagem feminina cuja história em nenhum momento é satélite de tramas envolvendo personagens masculinos.
Destaco também a interessante narrativa apresentada pelo escritor e os ganchos criados pelo autor para unir uma história à outra e manter o interesse do leitor mesmo com o ritmo prejudicado pro se tratar de pequenas publicações. Além disso, outro grande ponto positivo é a construção da personagem: Inicialmente uma garota comum que vai amadurecendo e evoluindo junto ao universo da HQ.
Escrito por:
Edworld Adventure - Sou um dos integrantes desse blog de nome excêntrico e até um pouco sem graça. Diferente dos outros colunistas, vulgo meus amigos, sou o único que possuo vida para além dos limites de meu sofá. Apaixonado por Star Wars, teatro e cinema, sou estudante de História. Assim como o restante, os atrativos de uma vida adulta me parecem muito chatos. Resumo minha existência em uma frase: "I could have been a contender instead of a bum, which is what I am - Let´s face it"
Nenhum comentário:
Postar um comentário