sexta-feira, 29 de abril de 2016

[Crítica] Capitão América: Guerra Civil | SemSpoilers




Pela primeira vez, a Marvel produz uma complexidade narrativa apresentando consequências dos atos e ofícios de ser um herói, explorando um conflito ideológico em torno de noções de Justiça e Liberdade entre os dois principais heróis de seu Universo cinematográfico.  Essa história não poderia ser apresentada com a estética costumeira dos filmes anteriores. Guerra Civil é o filme mais sombrio e maduro de toda a empreitada da Marvel nos cinemas, com uma enorme densidade narrativa e relações complexas entre os personagens.

Tendo como base o arco idealizado por Mark Millar, a trama se inicia com uma missão fracassada comandada por Rogers. Para explicar os motivos que levam o Secretário Ross a propor um polêmico tratado que tinha como objetivo submeter os heróis a ONU, o filme retoma os acontecimentos e mortes provocadas pelos Vingadores ao longo do Universo Cinematográfico da Marvel.  Nesse filme, a necessidade de lidar com as consequências de seus atos e de que maneira atuar a partir desse momento em diante divide Stark e Rogers, com o Homem de Ferro assumindo a perspectiva de defesa do Tratado e o Capitão sendo contrário. As motivações são bem apresentadas, complexas e fogem de uma perspectiva de Bem x Mal.

Um elogio deve ser feito aos Irmãos Russo: A habilidade em lidar com múltiplas perspectivas, narrativas e personagens é realizada de maneira impecável, tanto no desenvolvimento da trama quanto nas cenas de ação. Aliás, os combates estão espetaculares. Em nenhum momento o espectador se perde nas cenas que alternam belos movimentos e diálogos cômicos.  O já conhecido confronto no Aeroporto é um dos pontos altos da trama. Mesmo com o elevado número de personagens, os poderes são bem explorados e a ação é bem dividida entre os personagens.

Diferente do imaginado, em nenhum momento o filme deixa de ser sobre o Capitão América. Não, não é um terceiro filme dos Vingadores. É um terceiro filme do Capitão América. Uma continuação direta do Soldado Invernal. Extremamente organizado, bem dividido e coeso, o roteiro não dá brechas para que o plot e o desenvolvimento da trama envolvendo diversos personagens retire o protagonismo de Steve Rogers.  

Tendo isso em mente, não se pode isolar Guerra Civil do restante do Universo Marvel, pelo contrário, fica claro que seu impacto será visto por toda essa terceira fase.  Nesse sentido, são três caminhos trilhados por esse filme: O primeiro deles, como já afirmado, é dar continuidade à trama iniciada no Soldado Invernal, transformando Bucky no ponto central da trama e dando passos na construção do personagem. O segundo deles é preparar terreno para os novos personagens do Universo Cinematográfico da Marvel – Pantera Negra e Homem Aranha. Já o terceiro é estabelecer uma nova trama envolvendo os Vingadores para ser explorada ao longo da fase três.  Em todos esses objetivos, o filme funciona extremamente bem.

Uma das preocupações que eu tinha antes do filme estava em torno de como introduzir o Spider e o Pantera Negra – T´Challa no filme. E o método e consequentemente seu resultado foram excelentes.  O personagem interpretado por Chadwick Boseman é introduzido, tanto como Pantera como figura pública de seu país, a partir de uma tragédia central na história responsável por matar alguns Wakandianos.  Já o Homem-Aranha tem sua trama introduzida em uma breve linha de diálogo que funciona bem, mas o problema com o amigo da vizinhança está na sua irrelevância para a trama. Ter ou não ter a presença do Spider não altera em nada os rumos da história.

Quanto aos heróis, a Marvel apresenta o Capitão América mais amadurecido. A tensão entre ele e Stark, que vem sendo trabalhada desde o primeiro Vingadores, ganha contornos mais complexos. Temos uma versão muito bem idealizada e forte do Falcão que alterna excelentes movimentos marciais com um aparato tecnológico impressionante. O Homem-Formiga – que apresenta uma novidade em relação ao seu filme solo – serve como alivio cômico em alguns momentos, mas tem uma participação também secundarizada. Os pontos altos vão para a Feiticeira Escarlate, Homem-Aranha e o Pantera Negra.  A personagem interpretada por Elisabeth Olsen pela primeira vez os limites e as consequências de seu enorme poder, ganhando uma densidade profunda enquanto personagem;  O amigo da vizinhança tem sua melhor aparição em tela. Um verdadeiro Fan Service.  Holland entrega um Peter Parker nerd e engraçado e um Spider forte, ágil e com um humor extremamente certeiro.  Já o Pantera Negra é extremamente bem idealizado.  A movimentação e a caracterização extremamente animalesca combinada com a boa atuação de Boseman e com um bom figurino potencializa o personagem.

No lado dos vilões, é apresentada uma versão diferente de Zemo.  Essa nova roupagem traz um personagem extremamente articulador, inteligente e discreto. Além disso, temos nele o vilão mais bem construído dos filmes da Marvel até então. Suas motivações são profundas e envolve um dos pontos principais da trama: As consequências em torno dos atos dos heróis.  Se grande parte dos vilões da Marvel pouco dá vontade de ver novamente em tela, com Zemo é diferente.


No geral, Guerra Civil é um típico filme da Marvel. Excetuando-se a tentativa de dar mais profundidade narrativa com uma trama mais densa e um vilão mais complexo, é a mesma fórmula (simples) de sucesso.  A trama funciona perfeitamente bem no amadurecimento dos personagens e ajuda a preparar um terreno interessante para essa nova fase do Universo Cinematográfico da Marvel.  No entanto, o filme peca justamente em esbarrar na fórmula da Marvel de apostar sempre nos caminhos mais seguros. Faltou um evento mais bombástico. 

Escrito por:
Edworld Adventure - Sou um dos integrantes desse blog de nome excêntrico e até um pouco sem graça. Diferente dos outros colunistas, vulgo meus amigos, sou o único que possuo vida para além dos limites de meu sofá. Apaixonado por Star Wars, teatro e cinema, sou estudante de História. Assim como o restante, os atrativos de uma vida adulta me parecem muito chatos. Resumo minha existência em uma frase: "I could have been a contender instead of a bum, which is what I am - Let´s face it" 
Luiz, camarão e ação. Web Developer

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